Capítulo
8 – Portão Norte
Parte
3
René
Duarv
Vila
Ténor
- Então ele está
bem? - Indagou René.
- Ao que tudo indica
o soro não o matou. Agora vamos ver se funcionou contra a infecção. - Respondeu
Doutora Miller e pegou novamente um aparelho que havia usado antes para checar
o sangue de Guillian. - De acordo com os resultados. Parece que o soro 27-D foi
efetivo. Ele irá permanecer desacordado até que todo seu corpo se recupere do
choque.
- E quanto tempo
isso pode demorar?
- Isso só vai
depender do seu amigo e do quanto ele gosta de viver.
- Que tal levarmos
ele...
Um estranho zumbido
vindo do lado de fora do carro tartaruga interrompeu Duane que o fez sacar sua
pistola do cinto e correr para o lado de fora fazendo todos, exceto por
Guillian que ainda estava desacordado e amarrado na maca, saírem do carro.
- Mas o que foi que
aconteceu neste lugar? Onde foi parar o Sol? - Indagou General Duane.
- De onde vieram
todas essas nuvens? - Perguntou Steve, que também estava dentro do carro
tartaruga ajudando a Doutora Miller.
- Pergunte ao
garoto, ele quem deve saber de alguma coisa. - Disse Doutora Miller.
- Do que você tá
falando? - Indagou René.
- Duarv. Não é esse
seu sobrenome? Li nos arquivos dessa cidade que os únicos Saltomus restantes
aqui eram os da família Minor e Duarv.
- Mas o que isso
tem a ver com as nuvens?
- Sua família não
lhe contava contos sobre os seus antepassados? Deve haver alguma coisa sobre
isso.
- Mas isso não faz
sentido. Quer dizer. Meu avô me contava algumas histórias. Mas eram só
histórias.
- Garoto. Sua
família carrega mais de cinco mil anos de histórias sobre essa floresta. Sejam
elas lendas ou reais. Não tem nada sobre o céu fechando de repente em um pleno
verão?
- General, na
verdade não estamos mais no Oeste. Aqui ainda está na primavera. E no verão é
normal que o dia passe de ensolarado para nublado. É o que chamam de chuvas de
verão. Tenho certeza de que isso não se trata de uma chuva de verão, apesar de
estarmos na primavera. - Explicou Steve.
- Steve. O senhor
poderia me fazer o favor de ir se foder. - Resmungou General Duane.
- Calem essas bocas
e deixem que o René diga logo o que sabe. - Disse Doutora Miller.
René estava tão
focado com o estranho zumbido que vinha da floresta que nem prestava atenção na
discussão deles que só retornou quando todos estavam berrando seu nome.
- O meu avô
costumava me contar algumas histórias antes de morrer. Uma dela, se eu lembro bem,
era a respeito ao Sol. Havia criaturas que perambulavam pela Floresta de Awalon
que não suportavam a luz do Sol. Alguns segundos no Sol e feridas enormes de
queimaduras surgiam. Mas por algum motivo que não consigo me lembrar disso
agora, havia dias em que o céu se fechava e o dia se tornava noite. E
finalmente as criaturas podiam sair da floresta durante o dia e teriam um banquete
digno de reis. - Explicou René.
- E o que
exatamente eles comiam nesse banquete? - Perguntou Steve.
- Qualquer coisa
viva. E os seres-humanos eram comida fácil de encontrar e de se matar.
Terríveis massacres aconteciam nesses dias negros. Se não me engano, os antigos
Saltomus os chamavam de Ghouls. Eram criaturas humanoides bem altas, mas
andavam sempre com as costas tão encurvadas que pareciam lobos, principalmente,
pela forma que eles andavam, com a ajuda das mãos. Isso dava a eles uma
velocidade muito maior do que até mesmo os próprios lobos. Mas pelo que meu avô
me contava os massacres só aconteciam na região Oeste da floresta, que era onde
essas criaturas viviam.
- E o que as
trariam tão longe até o Portão Norte? - Perguntou Steve, novamente.
- Seja lá o que for
só vamos descobrir quando chegarmos lá. Agora o que temos que fazer é fechar
este maldito portão. - Disse General Duane que logo foi atendido por Steve que
correu até os guardas gritando que eles deviam fechar o portão o mais rápido
possível.
O portão foi
fechado a tempo até que o primeiro Ghoul aparecesse empurrando as grades
tentando passar.
- Mas que merda de
portão é esse? O que aconteceu com aquele portão enorme de madeira que sempre
esteve aí? - Perguntou General Duane.
René riu. Ele
achava que o destino estava apenas pregando uma peça com todos eles.
- Nosso querido
prefeito Eduardo Sais mandou tirar os portões no mês passado dizendo que iria
reforma-los. - Explicou René.
- Droga. Maldito
Eduardo Sais. - Resmungou Duane.
- General. São
muitos, e não para de chegar mais. Esse portãozinho aí não vai aguentar muito
tempo com todos eles forçando a trava.
O pavor se
espalhava pela vila e aos poucos saíam maridos com as poucas armas que tinham
em casa prontos para defender sua preciosa família que se escondia do mal que a
muito tempo não trazia terror aquele lugar.
- Droga, eu tenho
que ver minha avó. - Gritou René que logo saiu correndo na direção de sua casa
pra alertar sua avó e protege-la e tudo que pode ouvir foi Duane reclamando com
Doutora Miller.
- Mas onde é que
esse moleque vai?
Nas suas costas
veio o som das travas do portão se rompendo seguido por uma enorme gritaria se
espalhando por toda a vila e disparos de tiros e sons de corpos caídos no chão.
René não pode ver quem fora atacado, ou ao menos se as armas estavam sendo
efetivas contra aquelas grotescas criaturas, mas não importava, pois ele estava
desarmado. Havia deixado sua arma de caça dentro do carro tartaruga do general
e não tinha tempo de busca-la sem ser morto. A casa de sua avó estava apenas há
alguns metros de distância e toda sua preciosa Vila Ténor estava sendo
massacrada por Ghouls.
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