quarta-feira, 27 de novembro de 2013

A Estrada Temperamental

    Terrafirme. Era como costumavam chamar. Uma longa e longa estrada tão antiga quanto o próprio tempo. Histórias diziam que antes mesmo do primeiro ser vivo começar a rastejar pela terra, aquela estrada já estava lá. Algo curioso sobre ela é que ela parecia sempre infinita e ainda assim não parava de crescer. Era como se tivesse vida própria. Aliás, ela tinha vida própria e era bastante temperamental. Se de alguma forma ela se sentir ofendida enquanto você estiver atravessando por ela, bom, digamos apenas que é melhor que não a insulte, nem mesmo pense nisso.
    Bom, você deve estar se perguntando por que motivos alguém se atreveria a seguir por uma estrada tão temperamental quanto a nossa querida e amarelada Estrada Dolor, passaram a chamá-la assim depois da grande crise de memória que teve quando não sabia mais como chegar aos lugares. Ah, péssima época, bastava entrar na estrada mesmo que pra ir à esquina comprar alguns pães e ovos pra fazer um café da manhã e ela te jogava pro outro lado do continente no meio de todos aqueles piratas do deserto, mas falaremos sobre esses piratas mais tarde.
    Onde eu estava? Ah, sim...falava da estrada de Dédalo. Não aquele Dédalo grego famoso por criar o labirinto de Creta que foi usado para prender aquele amável minotauro, tá pra nascer criatura mais gentil, e festeira, boatos dizem que o minotauro é o responsável pelas maiores festas do Olimpo, coisa de dar inveja no próprio Dionísio. Mas voltando ao nosso mago, Dédalo, esse sim era um mago bem complicado. Era graças a ele que a estrada havia se tornado tão temperamental e expansiva. Nada que fazia saía como queria. Foi tentando criar um feitiço rápido pra conseguir fazer ovos fritos instantâneos que ele criou vida e fez sair uma galinha de dentro daquele ovo. Isso teve um impacto terrível na economia agropecuária, pois até então a única forma de se conseguir ovos era plantando uma muda de abacate misturado com feijão e goiaba, tudo isso dentro de um coco à numa profundidade seis vezes o tamanho da perna do velho Ton. Tudo isso pra um mês depois se conseguir duas dúzias de ovos, e depois todo o processo deveria se repetir. Bom, graças à Dédalo surgiram pequenas criaturas gordinhas que podiam cagar essas coisas. Isso obviamente não agradou nem um pouco os senhores donos de todas aquelas plantações de ovos e resultou no segundo assassinato dele. O primeiro foi só um acidente com um secador de cabelo.
    Acho que acabei divagando e perdi o foco da história que era como nosso herói, Jonas Jonas, estava indo naquela estrada e o por que, mas acho melhor deixar essa história pra outro dia.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Depois da hora - Três meses depois

    A primeira semana foi a mais difícil.
    A segunda pior ainda.
    A terceira, ah, essa não foi nada boa.
    Mas na quarta ela começou a aceitar sua condição.
    Nada daquilo fazia sentido. Para Ana, depois que morremos apenas a eterna escuridão e o vazio nos espera. Mas aquilo? Estava destinada a vagar sem rumo algum ou qualquer contato com qualquer pessoa viva? E se aquilo acontecia com todos aqueles que morriam, por que é que até agora, dois meses depois de sua morte, não havia visto nenhuma outra pessoa sequer na mesma situação? Alguma coisa não estava certa, e no início do terceiro mês, ela estava decidida a descobrir o que era.
    Teria alguma coisa a ver com a sua família? Não, ela já havia visitado todos e ninguém parecia notar que estava lá. Amigos? Bom, nenhum deles também pareceu notá-la. Seriam negócios inacabados? Já havia visto alguns filmes sobre isso. A pessoa morre e sua alma não recebe um descanso enquanto resolvesse alguma pendência. Mas, o que poderia ser essa pendência?
    Ana tentava se lembrar do dia de sua morte, mas nada vinha. Já estava morta por 3 meses e ainda não havia conseguido se lembrar de como morreu. Ela sabia que havia alguma coisa a ver com fogo, já que sua casa estava completamente tostada.
    Já que não conseguia se lembrar do dia, ou mesmo da semana de sua morte ela resolveu tentar com algo mais fácil. Qual era a última coisa que se lembrava? Jonas. Bom, já era um começo. Mas por que Jonas? Teria ele alguma coisa com sua morte? Não. Não Jonas, ele não faria uma coisa dessas. Faria? Bom, havia algo mais que ela devia se lembrar. Tinha completa certeza de que era algo extremamente importante. Talvez Jonas soubesse. Ele com certeza saberia.

domingo, 24 de novembro de 2013

Depois da hora - Um mês depois

    O som das sirenes ecoando pelos becos do centro não parecia ter fim. Ela seguia em direção ao som e quanto mais se aproximava, mais distante parecia estar. Aquilo só aumentava a frustração trazendo sempre o mesmo pensamento "Essa merda o tempo todo. Nunca para."
    Desde que havia morrido Ana sempre se via presa nos seus últimos momentos de vida. O som das sirenes se aproximando, ela tentando se movimentar pra sair, pra fugir daquele lugar, de todo aquele fogo que consumia a casa de seus pais e logo faria o mesmo com ela.
    "Aquela merda de remédio. Onde estava com a cabeça quando resolvi tomar aquilo?" - Não fosse pela reação alérgica que seu corpo teve ao remédio que havia acabado de tomar, seu corpo não estaria imóvel quando ouviu a explosão na cozinha e não estaria presa naquele banheiro apenas esperando o fogo, que já começava a atingir a porta, consumir todo o seu corpo deixando apenas restos carbonizados.
    O som das sirenes parecia aumentar, mas ninguém chegaria a tempo de regatá-la. Ela estava destinada a morrer ali. Ao menos não sofreria com o fogo. Se ela não desmaiasse primeiro pela falta de ar, mesmo quando o fogo alcançasse seu corpo ela não iria sentir nada além daquele maldito formigamento.
    A próxima coisa que se lembrava era de acordar deitada no exato ponto onde deveria existir sua casa, mas nada além de cinzas ela via ao seu redor. Como ela poderia ter sobrevivido aquele incêndio? E pra onde foram todas aquelas sirenes?
    Por semanas ela andou pelas ruas e ninguém sequer podia notar sua presença, como se ela não estivesse ali. Apenas quando encontrou sua lápide algumas semanas depois ela conseguiu entender que estava morta.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

O Fantástico Mundo - Uma Ilha?

    Ploc... ploc... ploc... De onde vinha... ploc... essa água? ...ploc... Uma enorme dor... ploc... bem na minha cabeça. Ploc... Eu me levantei tentando focar em qualquer coisa que estivesse pela frente. A dificuldade era grande, mas eu via o azul. Um longo e enorme oceano azul. Foi de lá que eu vim? Aquele som? Parou. Por que parou?
    Quando me levantei e olhei para baixo vi uma grande poça vermelha. Aquilo só podia ser meu sangue. Mas de onde é que vinha... Arg...é daí que vem. Mas onde foi que eu bati com a cabeça? Bom, isso não importa. Agora eu preciso descobrir que lugar é esse. A última coisa que lembro é estar olhando as estrelas enquanto boiava numa jangada no meio do nada.
    Nenhum sinal da jangada. Mas a o deck onde eu estava se parecia muito com ela. Restava eu seguir em frente e ver o que podia encontrar.
    Logo no fim do corredor do deck tinha uma cabana de madeira. A porta estava aberta. - "Tem alguém aí?" - Ninguém respondeu. Do lado de dentro tinha uma mesa grande com algumas folhas espalhadas, mas a poeira era tanta que mal podia distinguir o que era cada coisa. Cercando toda a parede da cabana, exceto pela porta, haviam estantes ainda mais empoeiradas que a mesa ali no centro. Alguns frascos que pareciam vazios, nada que pudesse identificar.
    Tirei a poeira de uma das folhas e vi um mapa e ali estava o deck. Aquilo era uma ilha, parecia deserta já que não havia nada que indicasse casas construídas por lá. Mas o mapa indicava algo importante bem no centro da ilha. Que maravilha, era no topo de uma montanha que não parecia nada fácil de se escalar.
    Por mais que odiasse, aquela era a única coisa de útil que havia encontrado naquela cabana. Não me restava nada a fazer a não ser subir naquela montanha e descobrir na sorte o que mais vinha pela frente.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

O Fantástico Mundo - Acordando em Águas Misteriosas

    Tudo parecia estar pela primeira vez em paz. Não havia nada com o que se preocupar, na verdade não havia nada. Apenas o vazio, e por mais que isso possa assustar algumas pessoas, aquilo me acalmava. Como se pudesse vagar pelo vazio por eras enquanto pensava na simples inexistência das coisas ou se um dia elas iriam existir, e se já existiram, por que é que deixaram de existir. Nada além da minha própria consciência. Poderia viver daquela forma eternamente, se é que viver é a palavra certa. Mas nada que é bom dura eternamente e aquilo tudo logo seria interrompido.
    Parecia que água estava percorrendo por meu rosto, o que não fazia sentido, pois até tempo atrás não existia nada, como poderia eu ter um rosto? Como poderia existir água? E aquilo percorrendo por meus cabelos? Seria aquilo o vento? Nada mais fazia sentido naquele lugar, até que meus olhos se abriram. Perdi a noção de quanto tempo levei até que pudesse enxergar qualquer coisa pela frente nitidamente. Parecia um rio, mas por algum motivo eu não estava afundando nele. Por que é que eu não afundava? Olhei por todas as partes em busca de uma resposta e lá estava. Bem debaixo do meu nariz, literalmente. Aquilo parecia um deck de madeira. Mas algo não estava certo. Pelo que sabia ele deveria estar preso em algo e não a deriva em um rio qualquer.
    Mais uma vez o tempo passou e ali eu presenciei pela primeira vez em muito tempo o nascer do dia e o por do sol. Quantos eu assisti até que encontrasse algo mais que apenas uma vastidão azul pela frente, eu já havia perdido a conta.
    Todos os dias eram nas estrelas que eu me encontrava o mais próximo de toda aquela paz que um dia tive o prazer de viver antes de despertar lá, onde quer que fosse. Era nas estrelas que me perdia em meus pensamentos sobre a minha simples existência e como se nada mais existisse. Elas seguiam por todos os lugares, meu corpo não mais existia e novamente seguia em consciência ao longo de todas elas até que num único segundo todas elas não mais existiam e se escondiam até que o sol mais uma vez ofuscasse a existência de todas elas.
    Naquele último dia em especial, algo havia de diferente. E junto com o sol, lá no horizonte surgiu um pouco de terra, que quanto mais se aproximava, maior parecia.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

O Fantástico Mundo - Momentos de um Passado Perdido

    Perdido em meio a milhares de memórias e constantes sensações de nauseias em meio uma enorme escuridão e uma voz que dizia incessantemente que estava em meu destino. Mas onde é que era esse tal destino? Afinal, o que era o destino?
    Quanto mais buscava memórias sobre qualquer que fosse aquilo que buscava, nada mais encontrava além de um sorriso. Mas que sorriso era aquele? Por longos dias, meses, ou quase um ano fui incapaz de perceber.
    Uma simples fração de segundo, novamente marcada, mas agora havia uma diferença. Podia me movimentar pelo lugar. Ver tudo aquilo que circundava a fonte de toda aquela incerteza do que é que estava acontecendo dentro daquela mente tão conturbada.
    Por horas, dias, talvez por eras passei circulando por aquele lugar. O tempo ali parecia não existir. Apenas um momento congelado estava registrado e ainda assim podia encontrar o suficiente para preencher uma vida sem ter o que faltar.
    A iluminação no lugar era péssima, e com ela havia um zumbido constante de vozes, múrmuros. Do lado direito tinha uma planta, seria aquilo um coqueiro? Disso não tinha certeza, mas podia ver claramente que não cresceria mais do que já havia crescido desde que fora enjaulada dentro daquele vazo de plantas. Ainda assim carregava consigo uma beleza extraordinária que se acentuava ainda mais com aquela pobre iluminação.
    Depois de tanto olhar para todos aqueles rostos eu pode identificar um velho amigo de infância cujo nome não seria capaz de lembrar. Mas que de algo eu lembraria era de sua enorme pança que com o tempo desaparecia. Meu amigo algo parecia dizer, mas nada conseguia entender. Logo depois de examinar o lugar, viu que aquilo era um bar. Em minha direita tudo que havia era um bar. O banheiro era pequeno e apertado, como sabia daquilo, eu não fazia ideia.
    Por mais que todas aquelas informações pareciam me surgir em mente enquanto explorava aquela fração de segundo que estava eternizada em minha mente por algum motivo desconhecido, algo me prendia a atenção. Em meio tudo aquilo havia um sorriso. Uma peruca de longos cabelos cacheados incrivelmente arrepiados tomava conta de toda paisagem, mais aquilo não era um problema. Por algum motivo gostava daquilo. Aqueles olhos estavam bem fechados, mas não o sorriso, e naquela pele morena pobremente iluminada por toda aquela fraca luz amarelada pude perceber que naquele universo havia algo mais que minha simples existência egocêntrica.
    O que era tudo aquilo? Mais uma vez, por muito tempo a resposta fiquei sem saber.

O Fantástico Mundo - O Futuro do Mundo

    E mais uma vez minha memoria havia me enganado e me deixado perdido em meio à multidão. Milhares de rostos passavam ao meu redor, mas nenhum deles conhecido. Que lugar era aquele? Onde diabos estava? Era tudo o que passava em mente, mas nenhuma resposta acolhedora viria àquelas perguntas.
    Já estava caminhando sem rumo havia horas quando a avistou e por um milésimo, uma simples fração de um momento que nunca mais poderia se repetir lá estava ela. Roxo, era a única cor que vinha em meio toda aquela turbulência de informações e pessoas transitando de um lado pro outro em busca de uma resposta para finalmente acalentar suas dúvidas sobre a vida e o que ela viria de lhes apresentar a seguir.
    Anos se passaram e ainda hoje não sei exatamente o que aconteceu, mas o que sei é que desde o momento em que à avistei pela primeira vez em diante eu não mais conseguiria abandoná-la. E lá estava eu seguindo ao seu lado sem mesmo ter certeza de seu nome (isso acontecia com certa frequência) seguindo rumo ao desconhecido. Por alguns lugares passamos, mas entre todos eles apenas um foi capaz de manter seu nome fixo e minha memória por mais que o tempo pudesse me calar. Era Sílvia, assim dizia ser enquanto falava em frente todos nós. Era loira e alta, e era levemente arrogante, ainda sim era uma boa pessoa, porem disso eu só pude saber alguns anos mais a frente e naquele momento estávamos lá assistindo enquanto Sílvia majestosamente nos falava sobre os segredos do universo que poderíamos descobrir caso seguíssemos o seu caminho.
    Sílvia era uma boa pessoa e me fez sentir um enorme lixo por não ser capaz de seguir seus passos a fim de desbravar os segredos que somente ela e poucos nesta terra de tupiniquins conheciam e por dois longos anos esta sensação se alongou até que pudesse conhecer a anã marrenta (mas isso é outra história).
    Depois de lá, seguimos em frente sem saber o que iriamos encontrar. Ainda hoje consigo me lembrar de seus olhos escuros, que alguns dizem ser castanhos, e daqueles caracóis ao longo de seus cabelos. A sensação que estava começando ali era totalmente desconhecida e apenas quase cinco anos depois fui capaz de perceber.
    O que era? Bom, talvez um dia saberá.