domingo, 24 de novembro de 2013

Depois da hora - Um mês depois

    O som das sirenes ecoando pelos becos do centro não parecia ter fim. Ela seguia em direção ao som e quanto mais se aproximava, mais distante parecia estar. Aquilo só aumentava a frustração trazendo sempre o mesmo pensamento "Essa merda o tempo todo. Nunca para."
    Desde que havia morrido Ana sempre se via presa nos seus últimos momentos de vida. O som das sirenes se aproximando, ela tentando se movimentar pra sair, pra fugir daquele lugar, de todo aquele fogo que consumia a casa de seus pais e logo faria o mesmo com ela.
    "Aquela merda de remédio. Onde estava com a cabeça quando resolvi tomar aquilo?" - Não fosse pela reação alérgica que seu corpo teve ao remédio que havia acabado de tomar, seu corpo não estaria imóvel quando ouviu a explosão na cozinha e não estaria presa naquele banheiro apenas esperando o fogo, que já começava a atingir a porta, consumir todo o seu corpo deixando apenas restos carbonizados.
    O som das sirenes parecia aumentar, mas ninguém chegaria a tempo de regatá-la. Ela estava destinada a morrer ali. Ao menos não sofreria com o fogo. Se ela não desmaiasse primeiro pela falta de ar, mesmo quando o fogo alcançasse seu corpo ela não iria sentir nada além daquele maldito formigamento.
    A próxima coisa que se lembrava era de acordar deitada no exato ponto onde deveria existir sua casa, mas nada além de cinzas ela via ao seu redor. Como ela poderia ter sobrevivido aquele incêndio? E pra onde foram todas aquelas sirenes?
    Por semanas ela andou pelas ruas e ninguém sequer podia notar sua presença, como se ela não estivesse ali. Apenas quando encontrou sua lápide algumas semanas depois ela conseguiu entender que estava morta.

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