quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Uma Rápida História

    Essa é a história de um trovador solitário. Um jovem que sonhava com as mais belas aventuras que alguém poderia ter. Mas a vida tinha outros planos para o nosso herói. E na forma de um travesseiro batendo em seu rosto a vida lhe avisou.
        - "Você não disse que iria trabalhar hoje? Anda. Olha a hora."
    Era isso mesmo minha gente, lá estava nosso herói em seus vinte anos de idade sendo acordado pela mãe pra não se atrasar. Dá um desconto pro garoto, afinal, era sábado.
    Teve de correr pra não se atrasar, mas uma roupa teve de escolher pra se arrumar. Não foi difícil, não haviam muitas opções, pois apenas recentemente havia descoberto que se ele não levasse a roupa suja pro cesto, bom, ninguém mais o faria.
    Pra ele aquele não passava de um dia comum, mas era seu primeiro sábado no estágio. Se havia algo de especial naquele dia, bom, disso ele não sabia. E como o choque que teve ao descobrir aos 7 anos que se ele arrumasse a mala sozinho deveria ao menos por cuecas limpas, uma notícia curta ele receberia:
        - "Hoje a obra é toda sua."
    Obviamente, ele não entendeu o real significado daquilo na hora e tudo que pode pensar ou dizer foi:
        - "Tá bom."
    Ao receber a notícia ele se viu diante de uns 10 homens com no mínimo o dobro da sua idade e todos deviam lhe obedecer. A simples ideia lhe pareceu hilária, mas ele conseguiu segurar toda sua vontade de rir para ao menos parecer sério e pensar em como se responsabilizar e comandar aquelas pessoas que não receberiam muito bem ordens de um garoto com idade pra ser seu bisneto. Mas o trovador solitário sempre gostou de metáforas e logo começou a falar:
        - "Pessoal, tenho uma metáfora pra vocês. Vocês sabem o que é mais importante numa roda de samba?" - E sem muito pestanejar, um deles respondeu:
        - "A mulata."
        - "Não", - disse o trovador solitário, - "O mais importante numa roda de samba é o pandeirista, pois é ele quem dá o ritmo da roda. E nessa roda, eu sou o pandeirista e quem não estiver no meu ritmo, vai rodar."
    Obviamente ninguém levou a sério as palavras de nosso heróis, mas isso foi o bastante pra quebrar o clima entre eles e logo começaram a trabalhar.
    Até ali não pareceu tão impossível, ele já tinha dado um jeito de fazer todos lhe ouvir, agora tinha que dar conta de uma maquina grande o suficiente pra fechar uma rua e, bom, tinha também que dar um jeito de fechar essa rua sem causar um pequeno caos num também pequeno bairro.
    Resolver o problema do trânsito não lhe pareceu nada difícil, bom, era o que ele pensava. Primeiro veio o pedreiro reclamar sobre bolhas, e não, não era as imobiliárias. E pra completar ninguém parecia aceitar que direita é direita e esquerda é esquerda. Bom, nada que algumas placas com setas não pudessem ajudar o trovador solitário a escapar daquela furada.
    Problema do trânsito resolvido, agora hora da maquina entrar em ação e transformar aquela pequena rocha com seus 26 metros e nada mais que pó. Por um segundo seu coração parou ao ver a máquina esbarrar num poste e quase deixar alguns moradores bem irritados pela falta de luz. Não se lembrava de ter tido tanto pavor desde a última vez que sonhou com o homem do saco fazia um bom tempo.
    E quando tudo parecia ir bem, mais uma vez a maquina ataca e destrói a tubulação de abastecimento d'água de um morador nada amigável.
        - "E quem é que vai concertar?" - O morador reclamou.
        - "Deixa comigo." - Nosso herói logo falou.
    Estavam todos prontos e dispostos a concertar, mas a grana era o responsável que devia desembolsar. E nisso todos olharam para o nosso herói esperando algo, e algo ele falou:
        - "Eu por acaso tenho cara de Papai Noel?"
        - "Mas doutor...É o responsável quem tem que comprar o material pra gente trabalhar."
    "Droga", ele pensou, "Esse cara tem razão." Sacou sua carteira em busca de algum dinheiro. E como ele desejava que aquelas notas do banco imobiliário que a vida inteira ganhou agora lhe servissem.
    Mais um problema resolvido e o dia logo chegaria ao fim. Começou como um dia qualquer o que acabou se tornando um dos dias mais importantes da vida de nosso herói. Foi ali, enquanto olhava todas aquelas pessoas indo embora, enquanto assistia aquela monstruosidade de máquina sendo levada embora, era enquanto assistia o sol se por sentado no meio fio olhando para o céu que ele finalmente percebeu toda a responsabilidade que encarou naquele dia, foi quando ele finalmente percebeu como havia se saído bem embora todas as dificuldades, foi ali naquele momento que ele percebeu que com a idade vinham as responsabilidades e a única forma de enfrentar aquilo tudo era com maturidade. Ele achava que não tinha nem sequer uma gota de maturidade. Desde o início daquele ano ele havia decidido que era a hora de fazer algo de sua vida, começar a trabalhar, mas maturidade não era o que via de forma alguma em si mesmo, afinal, até pouco tempo ele nem mesmo sabia que era possível ir ao zoológico se não fosse pelo passeio escolar. E foi quando o último raio de sol sumiu no horizonte que ele finalmente pode enxergar, ele cresceu.