A Vida de Jonas
Um cara qualquer
Capitulo 1
Hoje irei contar a história de um jovem e depressivo rapaz que acabara de completar seus dezessete anos, um jovem cujo a única e melhor amiga estava morta por sua causa a pouco mais de um mês, um jovem chamado Jonas. A história de nosso pobre rapaz, assim como muitas outras, começa com uma morte. Não a sua morte pois caso ele estivesse morto não teríamos uma história, quer dizer, até teríamos uma história mas seria uma história bem diferente daquela que vou lhe contar.
Era uma noite de verão como todas as outras
na cidade de Jonas, cidade cujo o nome não tem importância no momento, tudo bem
talvez seja um pouco importante mas sou eu quem não quero lhe dizer. As ruas do
centro da cidade estavam desertas e escuras como sempre, como nada além de
alguns mendigos dormindo na proteção da faixada dos prédios públicos, alguns
traficantes de drogas nos seus pontos de venda onde eventualmente recebiam a
visita de mais algum comprador com seu carro caro, uns pivetes procurando mais
um lugar para pixar, e Jonas, um jovem baixinho e magro pulando o muro nada
protegido do prédio do ministério da saúde. Nesse ponto você deve se perguntar
porque cargas d'água um jovem inofensivo estava fazendo depois das duas horas
da manhã invadindo um prédio público. E mesmo que não tenha se perguntado eu
devo lhe dizer que nada de bom acontece depois das duas da manhã e se você
resolveu fazer algo depois dessa hora esqueça, apenas vá dormir. Mas infelizmente
Jonas não sabia disso ou se sabia, apenas ignorou e resolveu sair de casa
escondido as duas da manhã no meio de uma crise depressiva e invadiu o prédio
mais alto da cidade e também o mais famoso pela quantidade de pessoas que já
foram ali se jogar para a morte.
O pobre Jonas não conseguia parar de se
culpar por ter causado a morte de Ana. Aquilo o levou à um longo período de
depressão que culminou naquele único momento em que ele finalmente traria um
fim para todo o seu sofrimento. Entretanto, o Universo, como sempre, tinha
outros planos para Jonas e não deixaria que ele simplesmente colocasse um fim
em sua vida antes que pudesse realizar e experimentar tudo aquilo que o
Universo tinha planejado pra ele. E assim se deu início à uma série de pequenos
eventos que impediriam que Jonas morresse ali naquele dia.
Se por algum momento o pensamento de que
Jonas escaparia da morte por conta de algum super poder ou profecia, esqueça
pois nada de sobrenatural irá acontecer com Jonas por enquanto. Então voltemos
a parte onde ele estava prestes a se jogar do alto de um prédio de 30 andares.
E o que aconteceu depois que ele se jogou?
Obviamente ele caiu e desmaiou de medo antes mesmo que pudesse piscar os olhos
ao se dar conta do que havia acabado de fazer e a próxima coisa que Jonas pode
se lembrar foi de acordar na sua própria cama em seu quarto se perguntando se
estava morto ou aquilo teria sido apenas um sonho.
Suas suspeitas de que estava morto
pareceram se confirmar no momento em que Ana entrou pela porta se seu velho
quarto quase que gritando:
- Até que enfim a bela adormecida acordou.
Fiquei te esperando lá na praça faz duas horas seu idiota. Tua sorte foi o
gênio do teu padrasto ter esquecido a chave pendurada na fechadura de novo,
senão eu já teria saído daqui sem você.
Aquilo deixou Jonas paralisado apenas
encarando sua amiga morta parada na sua frente com um olhar de quem estava
pronta para quebrar cada pedacinho de osso de seu corpo, algo que Jonas jamais
duvidara de que ela fosse capaz todas as vezes que recebia essa ameaça e antes
que ela pudesse soltar qualquer outro insulto ele quebrou o silêncio e
perguntou:
- Do que é que você tá falando? - A
pergunta pareceu ter aumentando significativamente a raiva de Ana quando
respondeu:
- Puta que pariu Jonas! Cê andou fumando
aquela porra de novo? Tá doidão? - Aquilo só pareceu aumentar a confusão que se
passava na mente de Jonas e ao perceber aquilo Ana acalmou a voz e continuou a
explicar. - Porra Jonas, você esqueceu que hoje é a nossa formatura e que ela
vai começar daqui uns 20 minutos no máximo? Já faz um mês que a gente combinou
isso cara. - ela suspirou e continuou - Cê tem 5 minutos pra se arrumar e me
encontrar lá na praça senão eu vou sem você.
Sem que Jonas pudesse dizer uma só palavra,
Ana saiu do quarto e o deixou sozinho com seus pensamentos. Ele lembrava sim do
que haviam combinado. Mas aquilo foi antes do que aconteceu com Ana, na verdade
foram apenas alguns momentos antes de sua morte quando eles fizeram o juramento
de sangue combinando de irem juntos a colação de grau, depois tomariam todas no
bar do gringo, depois seguiriam pra festa do Danilo sem mesmo que tivessem sido
convidados e fechar indo até a praia da baía onde iriam assistir o nascer do
sol numa barca a caminho do Novo Continente, sim ele se lembrava.
Um mês havia se passado desde que ela havia
morrido por conta daquela overdose e lá estava Ana gritando e xingando no
ouvido de Jonas. Nada daquilo fazia sentido pra ele, afinal, a última coisa que
se lembrava era de estar se jogando do alto de um prédio mas não, aquilo não
podia ser real. Teria sido um sonho? Ou alguma viagem louco por conta das
misturas que ele estava fazendo ultimamente? O Universo era testemunha do que
ele estava usando desde o dia em os dois fizeram aquele juramento totalmente
embriagados num canto qualquer de uma festa que haviam penetrado um mês antes.
Enfim, nada daquilo se responderia enquanto
Jonas não se arrumasse e fosse logo onde a possível Ana estava esperando por
ele.
Lá estava ela sentada no banco da praça
onde os dois cresceram juntos brincando, os únicos amigos que ambos tiveram
durante seus agora 17 anos de vida, se é que estavam realmente vivos.
Assim que viu Jonas se aproximando, Ana se
levantou e seguiu em direção à um carro verde, pequeno e bem acabado. Quando
Jonas se aproximou ainda nervoso sem saber se ia logo direto ao assunto ou
apenas esperaria a melhor hora pra falar. Ele resolveu esperar, como sempre
fazia, e fez apenas uma pergunta não escondendo o espanto em sua voz:
- Sua te emprestou o carro dela? Que
milagre.
Ana lhe devolveu um sorriso maldoso e
disse:
- Não. Agora vamos.
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